quinta-feira, 3 de junho de 2010

Vento no rosto

O dia está quente.
O dia está abafado.
Pessoas falam e eu não entendo.
Pessoas riem e eu não acho graça.
O dia corre num ritmo acelerado e lento.
Está pesado, minhas costas doem.
Paro de ouvir o que falam, já não conseguia mais.
O assunto nunca fora interessante.
Entro em um plano paralelo, o meu próprio.
Sentimentos me invadem.
Pensamentos voltam a me atormentar.
Quero chorar, quero correr.
Não posso, há pessoas ao meu redor.
O sol reflete nos prédios espelhados.
As pessoas falam.
As pessoas riem.
Olho e concordo, mas não sorrio.
Calo-me novamente.
Volto a pensar no que estava pensando e volto a sentir o que estava sentindo.
Minha garganta se trava, como se tivesse engolido uma pedra.
O sol bate mais forte.O dia está cada vez mais abafado.
As pessoas falam mais alto para acompanhar o dia.
Meu coração se acelera e se comprime.
Queria sair dali, mas não podia, havia pessoas em volta.
E num momento quase de desespero completo, sinto um sopro de alívio.
É o vento.
O vento toca meu rosto e o acaricia.
Ele bagunça meu cabelo.
Bagunça minhas idéias.
Ele sentira que era o momento.
Tira-me daquele ambiente hostil.
Fecho os olhos.
Não penso mais em nada.
Ele está levando um pedaço de mim.
Estou sentindo-me mais leve, até feliz posso dizer.
Sento-me à beira do penhasco.
Aprecio a sensação que o vento me proporciona.
Minhas pernas estão soltas, seus movimentos são de acordo com o do vento.
Tenho vontade de sorrir e sorrio.
Rio alto.
Meus dentes se mostram para o vento.
A felicidade é plena nesse momento.
Não queria estar em outro lugar senão no penhasco.
Então, de repente, como ele veio, ele se foi.
O vento parou.
Minhas pernas pararam.
Meu sorriso cessou.
Esperei por um instante para confirmar minha nova sensação.
Não podia acreditar, mas ele realmente havia parado.
O desespero começa a voltar, junto com ele voltam o barulho, o calor, as pessoas, as risadas, as conversas que não entendia e a vontade de ter o vento no meu rosto para sempre.
Sem opção, jogo-me penhasco a baixo.
A queda é rápida.
Chego ao chão com um baque surdo e duro.
Abro os olhos.
Olho meus pés.
Tocam o chão. Concreto.Minha cabeça dói.
O pedaço que ele havia levado de mim está voltando. Mas voltando embaralhado, desordenado, as peças estão todas desencaixadas. Agora sinto também o que não sentia.Olho em volta, pessoas riem cada vez mais alto.O sol cada vez mais forte.
Seguro-me para não sair correndo.O vento havia parado.Havia me abandonado depois de tanta felicidade por uns poucos instantes.
Encheu-me de esperança, de sorrisos e se foi.
Pessoas olham para mim, acho que falam comigo.
Não entendo, mas aceno com a cabeça.
Continuam olhando e rindo. Então eu rio, sorrio, só rio.
Parece que ficam satisfeitas, elas se viram e continuam a sua rotina para acompanhar o dia.
E eu fico esperando o vento voltar a tocar no meu rosto

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